Entre Lugar
Formatos Diversos | Fotografia
2020
Renata Gordo
Quando a quarentena começou e as cidades ficaram vazias, a arquitetura e o patrimônio material se destacaram. Fiquei observando, através de fotografias, essas grandes construções e passei a reconhecer a história através de ruínas, como a memória que fica e que atravessa tempos. Quantos anos tem as ruas, as igrejas, os prédios? O que ficou gravado nessas paredes? Parece que o passado, presente e futuro estão bem definidos ali, no tempo material das coisas. Em contrapartida, no isolamento social também refleti sobre o mergulho profundo no universo digital e nessa memória sem tempo. Passado, presente e futuro se atravessam e se alteram a qualquer momento. A virtualidade afeta nossa percepção do real. E o que fica? A impossibilidade do deslocamento, grande motor do meu trabalho com fotografia de rua, me fez mergulhar na minha memória. Vasculhei meu acervo buscando novas possibilidades para as imagens. Comecei então a caminhar entre as fotografias, tentando observar nos meus registros, quantas camadas me atravessam. Nessa deriva pelas imagens, algumas memórias de histórias que estão no imaginário popular da cidade, foram surgindo e com isso comecei a escavar jornais antigos da cidade. Através desses documentos históricos, procurei os locais que fotografei em um período de cem anos, observando especificamente a história colonial cravada em toda estrutura da cidade. Dessa imersão, surgiu a vontade de deslocar estas memórias do seu papel histórico de neutralidade e de verdade única, criando memórias ficcionais, a partir de notícias e fotografias documentais. A memória coletiva neste trabalho, é como uma entidade preservada pelo patrimônio. Mas será que a história contada por ela é só do passado? Será que a história é sobre nós brasileiros e latino-americanos? Relembrar tornou-se um exercício de rever o passado e ressignificá-lo, a fim de imaginar um futuro possível. Texto e imagem abrem caminho, deslocam o tempo e criam outras memórias.
Ficha Técnica:
Série: Entre Lugar
Fotografa: Renata Gordo
Técnica: Fotografia digital de celular e múltiplas exposições
Formatos diversos
Ano: 2020
Sobre a artista:
Nasci em São Paulo, mas vivo e trabalho em Florianópolis. Atualmente faço licenciatura em Artes Visuais na UDESC. Utilizo diferentes técnicas como expressão e diálogo, como a fotografia, o vídeo, a colagem e materiais têxteis. Procuro através das minhas práticas artísticas criar outros sentidos, ressignificar memórias e elaborar formas de existência e resistência. Participei da Residência artística NaFoto do Núcleo de Estudos em Fotografia e Arte - NEFA em 2020, recebi o Prêmio de Trajetória Cultural da Fundação Catarinense de Cultura em 2020 e realizo o projeto Floripa Anônima desde 2016, que mobiliza pessoas a registrarem a cidade a partir do seu modo de ver o cotidiano.